Fundamentos da Macroeconomia

1 Introdução

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018); Lopes et al. (2018); Lopes et al. (2008) e Mankiw (2010).

O que estudam os Macroeconomistas?

Para responder esta questão veja as seguintes manchetes sobre a economia brasileira:

  • “PIB de 2020 fecha com queda de 4,1%, revela pesquisa do IBGE” (Agência Brasil, 2021).
  • “Copom eleva a taxa Selic para 2,75% a.a.” (BCB, 2021).
  • “Produção industrial cresce em sete dos 15 locais pesquisados em janeiro” (Agência IBGE, 2021a).
  • “Inflação avança 0,86% em fevereiro, maior alta para o mês desde 2016” (Agência IBGE, 2021b).

É a partir dessas notícias que o objeto de estudo de um macroeconomista se torna inteligível. De modo resumido, a macroeconomia enfoca problemas inerentes à coleta e à análise de dados econômicos não experimentais (dados observáveis). Ou seja, os macroeconomistas coletam, em diferentes períodos, informações sobre o produto interno de um país, a inflação, o desemprego, a taxa de câmbio, a taxa de juros, ente outras, e propõem teorias e modelos (interpretações da realidade baseadas em algumas hipóteses simplificadoras) para explicar o comportamento dessas variáveis.

A macroeconomia é caracterizada como uma ciência inexata em função do seu objeto de estudo, a saber: o comportamento do coletivo, que depende da ação de milhões de agentes econômicos com objetivos, restrições e preferências distintas.

Nota 1.1 (Agentes econômicos)

Famílias: os agentes econômicos constituídos pelas “Unidades familiares” são todas as pessoas residentes no país e são detentoras e ofertantes dos “fatores de produção” (capital, trabalho e terra além de conceitos de capacidade empresarial e capacidade tecnológica, presentes na literatura econômica atual).
Empresas: são agentes econômicos constituídos pelas unidades de produção localizadas no país, tanto do setor primário, secundário e terciário, são as ofertantes de bens e serviços a sociedade.
Governos: são os agentes econômicos construídos pelo Estado em todas as suas esferas, municipal, estadual e federal.
Resto do mundo: são os Agentes econômicos constituídos por todos os países com os quais mantêm-se relações.

As próximas seções apresentam os conceitos e definições das principais variáveis econômicas, a saber: produto, inflação, juros e câmbio.

2 PIB, PNB, PNL e PIL

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 181–187); Lopes et al. (2018, p. 7); Lopes et al. (2008, p. 28–29, 42–44) e Mankiw (2010, p. 23–25).

O Produto Interno Bruto (PIB) refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país durante um intervalo de tempo (geralmente três meses ou um ano), independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. A Figura 2.1 demonstra a trajetória do PIB por meio do Número Índice (base: 01/01/1995 = 100) entre 1996-2020 — Série n.º 22109 do Banco Central do Brasil (BCB).

Produto Interno Bruto

Figura 2.1: Produto Interno Bruto

O PIB mede o total da renda produzida internamente. Já o Produto Nacional Bruto (PNB) mensura a renda total ganha pelos chamados nacionais (residentes de uma nação).

Nota 2.1 (Residentes e Não residentes)

Residentes são indivíduos estabelecidos no território do país e cuja atividade está sujeita à legislação daquele país. Não residentes, por outro lado, são indivíduos estabelecidos no exterior, os que se encontram em trânsito no país e os que estão estabelecidos no país mas têm suas atividades financiadas e legisladas pelo seu país de origem.

Equação 2.1 (PIB versus PNB) \[PNB = PIB + RLE\]


\(\textrm{Receita Líquida do Exterior (RLE)} = \textrm{renda recebida do exterior - renda enviada ao exterior}\)
\(\textrm{Outra especificação comum: PNB = PIB - RLEE}\)
\(\textrm{Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) é a diferença entre valores enviados ao exterior e os valores recebidos do exterior}\)

Logo, se a renda recebida ao exterior é maior renda enviada do exterior, há mais entradas do que saídas, ou seja, a RLE é positiva, PNB\(>\)PIB. Os países desenvolvidos costumam ter PNB maior que o PIB. No Brasil, o PNB é menor que o PIB, enviam-se mais recursos ao exterior do que se recebe.

Por exemplo, uma empresa americana com sede naquele país possui uma filial no Brasil. A parcela do lucro da filial enviada aos Estados Unidos é parte integrante do PNB americano. Em outras palavras, a filial brasileira contribui para elevar o PIB do Brasil e, em simultâneo, aumenta o PNB dos Estados Unidos quando envia parte de seus lucros para aquele país.

Outro exemplo, um engenheiro brasileiro presta um serviço para uma empresa americana situada nos Estados Unidos, o produto decorrente dessa atividade é parte integrante do PIB daquele país. Por outro lado, essa renda auferida pelo cidadão brasileiro compõe o PNB do Brasil.

É importante salientar que o PNB engloba os rendimentos obtidos pelos cidadãos e pelas empresas no exterior, mas não engloba os rendimentos obtidos por estrangeiros no país, ou seja, PNB não incorpora o valor dos serviços realizados para produzir bens materiais, porque o seu valor é incluído no preço do produto acabado.

Para obter o Produto Nacional Líquido (PNL), subtraímos do PNB a depreciação do capital.

Equação 2.2 (PNL) \[PNL = PNB - \textrm{Depreciação}\]

Do mesmo modo, o Produto Interno Líquido (PIL) é caracterizado pela diferença entre o PIB e a depreciação do capital.

Equação 2.3 (PIL) \[PIL = PIB - \textrm{Depreciação}\]
Nota 2.2 (Depreciação)

Redução do valor ativo em consequência de desgaste pelo uso, obsolescência tecnológica ou queda no preço de mercado, geralmente de máquinas, equipamentos e edificações.

Outro conceito importante que caracteriza o Produto diz respeito às tributações e subsídios dos fatores de produção. No caso do PNB, teríamos o Produto Nacional Bruto a custo de fatores (PNB\(_{cf}\)) quando mensuramos o PNB sem considerar os impostos indiretos e os subsídios. Se considerarmos essas variáveis, teríamos o PNB a preço de mercado (pm). Logo:

Equação 2.4 (PNB preço de mercado e a custo de fatores) \[PNB_{pm}= PNB_{cf}+ \textrm{impostos indiretos - subsídios}\]

Assim, há várias combinações possíveis. e.g., PIB\(_{pm}\), PIB\(_{cf}\), PIL\(_{pm}\), PIL\(_{cf}\)

3 Inflação

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 221, 302–314); Lopes et al. (2018, p. 11–13, 56); Lopes et al. (2008, p. 294–306) e Mankiw (2010, p. 25–28, 301–303).

O objetivo deste resumo é apresentar conceitos básicos sobre inflação e evidenciar os principais índices de preços empregados no Brasil.

O que é inflação? De modo resumido, a inflação é o processo de crescimento contínuo e generalizado dos preços numa economia. A taxa de inflação é um indicador do aumento percentual do nível geral de preços.

Equação 3.1 (Taxa de Inflação) \[\frac{I-I_{-1}}{I_{-1}}\]


\(\textrm{I} = \textrm{Índice Geral de Preços}\)

A Figura 3.1 mostra o número-índice, a varição mensal e a variação anual da inflação no Brasil entre 2010 e início de 2021 — Tabela n.º 1737 do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA, 2021).

Número Índice, variação mensal e variação anual da inflação --- 2010--2021

Figura 3.1: Número Índice, variação mensal e variação anual da inflação — 2010–2021

Quando se diz, por exemplo, que um índice como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — índice oficial do Brasil — teve uma variação mensal de 2% no mês de agosto, isto significa que a média ponderada dos preços que compõem o índice em referência sofreu um aumento de 2% em relação ao mês anterior, isto é, em relação a julho.

Se a variação do salário, em determinado período, for menor que o IPCA, haverá, em média, perda do poder de compra. Se a inflação e o salário têm a mesma variação, mantém-se o poder de compra. Todavia, um aumento salarial for acima do referido índice, o poder de compra aumentará.

3.1 Índices de preços

Texto de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 198–203).

A inflação é mensurada através de índices que ponderam os bens e serviços mais importantes para uma população e medem o crescimento dos preços. Posto de outro modo, os índices de preços são “números que agregam e representam os preços de determinada cesta de produtos. Sua variação mede, portanto, a variação média dos preços dos produtos dessa cesta. Podem se referir, por exemplo, a preços ao consumidor, preços ao produtor, custos de produção ou preços de exportação e importação. Os índices mais difundidos são os índices de preços ao consumidor, que medem a variação do custo de vida de segmentos da população (taxa de inflação ou de deflação)” (BCB, 2016).

Nota 3.1 (Número-índice)

Os números-índices têm por objetivo mensurar a evolução relativa de uma ou mais séries de dados ao longo do tempo. Ou seja, é uma medida que sintetiza, em uma expressão quantitativa, a variação média, entre duas situações, de todos os elementos de um conjunto.

O Índice Laspeyres, por exemplo, faz parte da metodologia para o cálculo do IPCA.

Equação 3.2 (Índice Laspeyres) \[\textrm{Índ. Lasp.} = \frac{\sum_{i=1}^{n}p_{t}\times q_{0}}{\sum_{i=1}^{n}p_{0}\times q_{0}}\]


\(p_{t} = \textrm{ preço no período t;}\)

\(p_{0} = \textrm{ preço no período base;}\)

\(q _{0} = \textrm{ quantidade no período base.}\)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, é um dos índices mais importantes da economia brasileira, pois, é utilizado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) como referência para o sistema de metas de inflação. Ademais, alguns títulos do Tesouro Nacional são indexados a esse índice. Outro índice importante elaborado pela mesma instituição é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) que mensura um conjunto de produtos e serviços consumidos pelas famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, em que a pessoa de referência na família seja assalariada, e que resida na área urbana da região de abrangência da coleta. O INPC é comumente utilizado em dissídios salariais.

A base de ponderação dos índices de preço ao consumidor calculados pelo IBGE é obtida através de pesquisas de orçamento familiar que levantam o peso de cada produto no consumo das famílias.

Peso dos grupos no IPCA

Figura 3.2: Peso dos grupos no IPCA

Contribuição dos Grupos do IPCA para a Inflação Mensal

Figura 3.3: Contribuição dos Grupos do IPCA para a Inflação Mensal

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) consolidou-se como um importante centro de elaboração de índices econômicos. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), por exemplo, foi criado em 1947 e é utilizado até hoje para reajustes nos contratos de aluguéis e reajustes de aumento no valor da energia elétrica. O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) é mais antigo ainda, sua criação data de 1944 e é empregado em contratos para correção de determinados preços administrados. Além desses, a instituição calcula o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), entre outros.

Equação 3.3 (IGP-10, IGP-M e IGP-DI) \[IGP_{i,t}=0,6\times IPA_{i,t}+0,3\times IPC_{i,t}+0,1 \times INCC_{i,t}\]


\(\textrm{Onde } i \textrm{ pode ser 10, M ou DI.}\)

A Figura 3.4 demonstra a variação percentual dos principais índices da Fundação Getúlio Vargas entre 2010 e início de 2021.

Variação percentual dos principais índices da FGV --- 2010--2021

Figura 3.4: Variação percentual dos principais índices da FGV — 2010–2021

A Figura 3.5 mostra a taxa de varição anual do IGP-M e do IPCA entre 2010 e início de 2021.

IPCA $vs$ IGP-M

Figura 3.5: IPCA \(vs\) IGP-M

A Tabela 3.1 traz um resumo com os principais índices empregados no país.

Tabela 3.1: Exemplos de Índices de Preços Produzidos no Brasil
Instituto Índice de Preços
IBGE IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)
IBGE INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)
IBGE IPP (Índice de Preços ao Produtor)
IBGE SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil)
Ibre-FGV IGP-M, IGP-DI e IGP-10
Ibre-FGV Índice de Preços Pagos pelos Produtores Rurais (IPP)
Ibre-FGV IPC-3i (Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade)
FIPE IPC-Fipe
FIPE Fipe-Zap
Dieese Cesta Básica Nacional
Sinduscon Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil do estado de São Paulo

3.2 Deflacionamento

Texto de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 188–193).

Estudos que envolvem comparações intertemporais de preços requer que os mesmos sejam corrigidos do efeito da inflação. O método é conhecido como transformação dos valores nominais em reais. Esse ajuste permite avaliar se a valorização nominal verificada no preço de produto corresponde a uma valorização real, vis-à-vis a inflação no período considerado.

Equação 3.4 (Fórmula básica para o deflacionamento) \[ \begin{aligned} P_{i:j} = \left(\frac{I_{j}}{I_{i}}\right)\times P_{i}\label{defla} \end{aligned} \]

\(P_{i:j} = \textrm{preço real do produto do período } i \textrm{ em valor do período } j;\)

\(P_i = \textrm{preço nominal do produto no período } i;\)

\(I_i = \textrm{Índice de preço no período } i, \textrm{ e}\)

\(I_j = \textrm{Índice de preço no período } j.\)

A função mostra que preço real do produto é igual à relação entre os índices de preços nos períodos j:i multiplicado pelo preço nominal.

A Figura 3.6 evidencia o PIB do Brasil em valores nominais e reais.

Produto Interno Bruto Nominal e Real

Figura 3.6: Produto Interno Bruto Nominal e Real


3.3 Tipos de Inflação

3.3.1 Inflação de custos

A inflação de custos é resultante dos choques na oferta agregada. É o processo inflacionário gerado (ou acelerado) pela elevação dos custos de produção, especialmente das taxas de juros, de câmbio, de salários ou dos preços das importações.

3.3.2 Inflação de demanda

A inflação de demanda é resultante dos choques na demanda agregada. Quando os meios de pagamento crescem além da capacidade de expansão da economia, ou antes, que a produção esteja em plena capacidade, o que impede que a maior demanda decorrente da expansão dos rendimentos seja atendida. Com isso, aumentam os preços e, por extensão, os salários e os rendimentos em geral, dando origem a uma espiral inflacionária.

3.3.3 Inflação inercial

Quando o aumento de preços do período \(t\) é influenciado pelo aumento do nível geral de preços do período \(t_{-1}\), damos o nome de inflação inercial. Em outras palavras, os preços sobem hoje porque subiram ontem. Para manter o poder de compra dos trabalhadores, os aumentos de preços são compensados por aumentos salariais e estes no que lhe concerne elevam a demanda por bens e serviços, que pressiona os preços, resultando em novos aumentos. Em momentos de elevada e persistente inflação, como os anos anteriores ao plano real, os reajustes de preços e salários ocorreram em intervalos de tempo cada vez menores. A este fenômeno, de reajuste em função da inflação do período anterior, dá-se o nome de indexação.

3.3.4 Estagflação

Situação na economia de um país na qual a estagnação ou o declínio do nível de produção e emprego se combinam com uma inflação acelerada. O fenômeno contraria a teoria clássica segundo a qual a inflação tenderia a declinar com o aumento do desemprego.

3.3.5 Deflação

Quando a taxa de inflação é menor que zero damos o nome de deflação, isto é, uma taxa de inflação negativa. É caracterizada pela baixa oferta de moeda em relação à oferta de bens e serviços ou pela queda na demanda agregada (associada, por exemplo, a um maior índice de poupança).

A deflação pode ser tão prejudicial para economia quanto a inflação, deflações contínuas podem reduzir o nível do produto.

4 Exercícios


5 Referências

AGÊNCIA BRASIL. PIB de 2020 fecha com queda de 4,1\(\%\), revela pesquisa do IBGE. Brasília: Agência Brasil, 2021.
AGÊNCIA IBGE. Produção industrial cresce em sete dos 15 locais pesquisados em janeiro. Rio de Janeiro: IBGE, 2021a.
AGÊNCIA IBGE. Inflação avança 0,86\(\%\) em fevereiro, maior alta para o mês desde 2016. Rio de Janeiro: IBGE, 2021b.
BCB. Copom eleva a taxa Selic para 2,75\({\%}\) a.a. Brasília: Banco Central do Brasil, 2021.
LOPES, L. M. et al. Manual de Macroeconomia: Básico e Intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LOPES, L. M. et al. Macroeconomia: Teoria e Aplicações de Política Econômica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
SIDRA. Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA. Brasília: IBGE, 2021.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 368