O produto agregado

1 Introdução

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018); Lopes et al. (2018); Lopes et al. (2008) e Mankiw (2010).

O que estudam os Macroeconomistas?

Para responder esta questão veja as seguintes manchetes sobre a economia brasileira:

  • “PIB de 2020 fecha com queda de 4,1%, revela pesquisa do IBGE” (Agência Brasil, 2021).
  • “Copom eleva a taxa Selic para 2,75% a.a.” (BCB, 2021).
  • “Produção industrial cresce em sete dos 15 locais pesquisados em janeiro” (Agência IBGE, 2021a).
  • “Inflação avança 0,86% em fevereiro, maior alta para o mês desde 2016” (Agência IBGE, 2021b).

É a partir dessas notícias que o objeto de estudo de um macroeconomista se torna inteligível. De modo resumido, a macroeconomia enfoca problemas inerentes à coleta e à análise de dados econômicos não experimentais (dados observáveis). Ou seja, os macroeconomistas coletam, em diferentes períodos, informações sobre o produto interno de um país, a inflação, o desemprego, a taxa de câmbio, a taxa de juros, ente outras, e propõem teorias e modelos (interpretações da realidade baseadas em algumas hipóteses simplificadoras) para explicar o comportamento dessas variáveis.

A macroeconomia é caracterizada como uma ciência inexata em função do seu objeto de estudo, a saber: o comportamento do coletivo, que depende da ação de milhões de agentes econômicos com objetivos, restrições e preferências distintas.

Nota 1.1 (Agentes econômicos)

Famílias: os agentes econômicos constituídos pelas “Unidades familiares” são todas as pessoas residentes no país e são detentoras e ofertantes dos “fatores de produção” (capital, trabalho e terra além de conceitos de capacidade empresarial e capacidade tecnológica, presentes na literatura econômica atual).
Empresas: são agentes econômicos constituídos pelas unidades de produção localizadas no país, tanto do setor primário, secundário e terciário, são as ofertantes de bens e serviços a sociedade.
Governos: são os agentes econômicos construídos pelo Estado em todas as suas esferas, municipal, estadual e federal.
Resto do mundo: são os Agentes econômicos constituídos por todos os países com os quais mantêm-se relações.

2 O produto agregado

2.1 Fluxo Circular da Renda

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 173); Lopes et al. (2018, p. 6); Lopes et al. (2008, p. 22–24) e Mankiw (2010, p. 16–17).

A teoria macroeconômica contorna as dificuldades inatas de mensurar o comportamento coletivo dos agentes econômicos por meio da elaboração de modelos. O modelo mais simples que representa as relações econômicas de uma sociedade é conhecido como Modelo do Fluxo Circular da Renda (FCR).

O FCR mostra o fluxo da atividade econômica em formato de diagrama, o qual comporta dois mercados principais, Mercado de Bens e Serviços e o Mercado de Fatores de Produção. As conexões entre os diferentes agentes econômicos e os referidos mercados são representadas por setas que direcionam o fluxo real (bens e serviços) — sentido anti-horário — e o fluxo monetário — sentido horário. As próximas subseções exemplificam o exposto.

2.1.1 Economia fechada sem formação de capital

Considere uma economia hipotética em que há apenas dois agentes econômicos: empresas e famílias. Nessa economia simples há somente dois tipos de mercado: Mercado de Bens e Serviços e Mercado de Fatores de Produção. O principal fornecedor de recursos para a economia é o setor das famílias e o principal recurso que as famílias fornecem é, evidentemente, a sua mão de obra. O setor empresarial é o principal comprador de recursos, que usam para produzir bens e serviços. Os bens e serviços são vendidos pelas empresas às famílias no Mercado de Bens e Serviços. Essa situação é mostrada na Figura 2.1.

Economia fechada sem formação de capital

Figura 2.1: Economia fechada sem formação de capital

A Figura 2.1 é conhecida como diagrama do fluxo circular da renda e do produto. Observe que existem dois fluxos na economia. Há um fluxo no sentido anti-horário de recursos recursos reais – bens e serviços. No sentido horário, há um fluxo monetário – moeda (dinheiro). Os pagamentos recebidos pelas famílias pela venda dos seus recursos (fatores de produção) representam seus rendimentos. As famílias usam suas rendas para comprar bens e serviços. Os pagamentos feitos pelas empresas às famílias fazem parte dos custos dos negócios. O dinheiro que as empresas recebem pelos bens e serviços que vendem às famílias constitui o seu rendimento bruto.

Se as famílias gastarem toda a sua renda nesta economia hipotética, a economia estará em equilíbrio. A renda que é gerada no curso da produção de bens e serviços é suficiente para comprar todos os bens e serviços que são produzidos, garantindo que as empresas mantenham o nível atual de produção. Se essa produção estiver em pleno emprego, a economia permanecerá em equilíbrio, indefinidamente, no pleno emprego. Não há razão para as empresas mudarem o seu nível de produção, visto que conseguem vender todos os bens e serviços que produzem.

Nota 2.1 (Pleno Emprego)

O pleno emprego é a situação no mercado de trabalho onde todos os aptos e dispostos a trabalhar conseguem ocupação remunerada. Em outras palavras, “quando o produto agregado está abaixo do produto de pleno emprego, dizemos que existe desemprego, em geral representado pelo desemprego de mão de obra. Quando está acima, dizemos que a economia opera em uma situação de superemprego” (LOPES et al., 2018, p. 7).

2.1.2 Economia fechada com formação de capital — poupança

Compreendido esse processo, convém acrescentar algumas complicações em nosso modelo. É razoável supor que as famílias não gastam toda sua renda. Elas podem, por vários motivos, poupar parte de sua renda. Enquanto os agregados familiares poupam, constitui uma fuga de recursos do fluxo circular de gastos. Esse “vazamento” é representado na Figura 2.2 por uma seta que leva ao setor doméstico.

Economia fechada com formação de capital - poupança

Figura 2.2: Economia fechada com formação de capital - poupança

Será que essa nova variável é um problema para nossa economia hipotética? Se os agregados familiares decidirem poupar parte dos seus rendimentos, os gastos deixarão de ser suficientes para comprar todos os bens e serviços produzidos pelas empresas. As famílias ainda recebem renda suficiente para comprar toda a produção da economia, mas optam por poupar parte de sua renda. Ou seja, parte da produção não será vendida. Como as empresas reagirão a essa situação? Há três possibilidades: elas podem estimular a demanda reduzindo os preços, reduzir sua produção ou, o que é provável, a combinação das duas. Se a produção é reduzida, menos trabalhadores são empregados, surge o desemprego involuntário.

2.1.3 Economia fechada com formação de capital - poupança e investimento

Outro ponto relevante do nosso modelo é: onde as famílias alocam sua poupança? É provável que grande parte da renda não consumida será alocada em bancos comerciais. Estas instituições usarão essa poupança para fazer empréstimos a outras famílias e empresas. Se o empréstimo é para outras famílias que desejam gastar mais do que sua renda, então não haverá alteração no fluxo circular da renda. Ou seja, a redução do consumo de uma família é compensada pelo aumento de consumo de outras famílias.

Existe também a possibilidade da empresa pedir dinheiro emprestado para comprar bens de capital, isto é, realizar um investimento produtivo.

Nota 2.2 (Investimento Produtivo – ou econômico versus Investimento Financeiro)

O investimento produtivo é um investimento direcionado para a produção de novos bens e serviços, em geral, é o investimento em máquinas, equipamentos e estruturas que serão utilizados no processo produtivo do período seguinte.
Os investimentos financeiros são aqueles alocados em carteiras ou portefólios financeiros, e.g., derivativos, ações, tesouro direto, opções, fundos imobiliários.

O investimento (conceituado em economia como sinônimo de investimento produtivo) pode ser considerado como uma injeção de recursos no fluxo circular. Essa injeção é representada na Figura 2.3 pela seta direcionada às empresas.

Economia fechada com formação de capital - poupança e investimento

Figura 2.3: Economia fechada com formação de capital - poupança e investimento

Observe que se o investimento das empresas (e/ou o empréstimo entre famílias) for igual aos vazamentos ocorridos pela poupança, a economia estará em equilíbrio. Todos os bens e serviços na economia são comprados, seja pelas famílias ou pelas próprias empresas.

Nota 2.3 (Investimento de ‘segunda mão’)

O investimento em ativos de segunda mão não é contabilizado como investimento agregado, sendo apenas uma transferência de ativos que se compensa: alguém “desinvestiu”. Esses bens já foram computados no passado.

2.1.4 Economia fechada com governo

Outro agente econômico relevante em uma economia é o governo. Este faz seus próprios gastos e também cobra tributos das pessoas.

Nota 2.4 (Tributos)

Imposto Direto – afeta diretamente a riqueza dos contribuintes, incidindo sobre seus capitais ou suas rendas, e depende da importância das riquezas possuídas ou das rendas ou salários recebidos, e.g., Imposto de Renda, IPVA, IPTU, etc.
Imposto Indireto – decorrente da produção e comercialização (geralmente, incide sobre vendas, produtos industrializados, importação etc.), e.g., IPI, ICMS, ISS, etc.
Uma vez que, em última análise, os impostos têm de ser pagos pelas pessoas, podemos apenas considerar o efeito dos impostos sobre os agregados familiares.

As famílias agora terão três formas de despender suas rendas: no consumo, na poupança e no pagamento de tributos. Os dois últimos constituem fugas do fluxo circular de gastos da economia. O governo também realiza gastos (em bens e serviços) que são acrescidos no fluxo circular de gastos. A participação do governo em nossa economia hipotética está evidenciada na Figura 2.4.

Economia fechada com governo

Figura 2.4: Economia fechada com governo

2.1.5 Economia aberta e com governo

Para tornar o nosso exemplo um pouco menos abstrato, inclui-se agora o setor externo. As famílias podem optar por comprar mercadorias estrangeiras, o que constituirá outro tipo de fuga do fluxo circular. Indivíduos em outros países podem optar por comprar bens e serviços de nossa economia, que são injeções em nosso fluxo circular de gastos. Essas relações estão representadas na Figura 2.5.

Economia aberta e com governo

Figura 2.5: Economia aberta e com governo

Resumidamente, há agora três categorias de vazamentos do fluxo de gastos: poupança, tributos e bens e serviços importados. Existem três categorias de injeções: investimento, gastos do governo e bens e serviços exportados. O equilíbrio ainda requer que toda a renda seja gasta, seja como consumo das famílias, investimento das empresas, gastos do governo ou exportações para países estrangeiros. Se toda a renda for gasta, então toda a produção das empresas será comprada. O gasto total será igual à produção total e a economia estará em equilíbrio. Contudo, se a produção total exceder o gasto total, então a economia estará em desequilíbrio, já que parte da produção não é vendida. Nesta situação, as empresas reagirão, pelo menos parcialmente, reduzindo seu nível de produção, levando um menor nível de emprego e um menor PIB real. No entanto, se o gasto total exceder a produção total, então as empresas tenderão a aumentar a produção, desde que a economia não esteja em pleno emprego, resultando em uma maior taxa de emprego e um PIB real mais alto.

Síntese 2.1 (FCR)

O fluxo real e o monetário interligam os múltiplos Agentes econômicos: as famílias, as empresas, o governo e o ‘resto do mundo’. As famílias fornecem os fatores de produção (no exemplo a mão de obra) às empresas e as empresas produzem e fornecem às famílias os bens e serviços de que necessitam, fluxo real.
As empresas pagam às famílias pelo trabalho realizado e, no que lhe concerne, as famílias pagam às empresas os bens e serviços adquiridos, fluxo monetário.
Do lado do fluxo real (Produto) estão o emprego dos recursos e o suprimento de bens e serviços necessários. Do lado monetário se dá a remuneração dos fatores de produção e o pagamento dos bens e serviços adquiridos (Renda).
O dinheiro (moeda) é neutro, no sentido de que é considerada apenas como unidade de medida e meio de trocas.
A situação de pleno emprego: a demanda de trabalho é igual ou inferior à oferta. Ou seja, todos que desejarem vender sua força de trabalho pelo salário corrente terão condições de obter um emprego.
No modelo básico, a economia estará em equilíbrio quando os vazamentos forem iguais ao nível das injeções.

2.2 PIB, PNB, PNL e PIL

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 181–187); Lopes et al. (2018, p. 7); Lopes et al. (2008, p. 28–29, 42–44) e Mankiw (2010, p. 23–25).

O Produto Interno Bruto (PIB) refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território econômico de um país durante um intervalo de tempo (geralmente três meses ou um ano), independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. A Figura 2.6 demonstra a trajetória do PIB por meio do Número Índice (base: 01/01/1995 = 100) entre 1996-2020 — Série n.º 22109 do Banco Central do Brasil (BCB).

Produto Interno Bruto

Figura 2.6: Produto Interno Bruto

O PIB mede o total da renda produzida internamente. Já o Produto Nacional Bruto (PNB) mensura a renda total ganha pelos chamados nacionais (residentes de uma nação).

Nota 2.5 (Residentes e Não residentes)

Residentes são indivíduos estabelecidos no território do país e cuja atividade está sujeita à legislação daquele país. Não residentes, por outro lado, são indivíduos estabelecidos no exterior, os que se encontram em trânsito no país e os que estão estabelecidos no país mas têm suas atividades financiadas e legisladas pelo seu país de origem.

Equação 2.1 (PIB versus PNB) \[PNB = PIB + RLE\]


\(\textrm{Receita Líquida do Exterior (RLE)} = \textrm{renda recebida do exterior - renda enviada ao exterior}\)
\(\textrm{Outra especificação comum: PNB = PIB - RLEE}\)
\(\textrm{Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) é a diferença entre valores enviados ao exterior e os valores recebidos do exterior}\)

Logo, se a renda recebida ao exterior é maior renda enviada do exterior, há mais entradas do que saídas, ou seja, a RLE é positiva, PNB\(>\)PIB. Os países desenvolvidos costumam ter PNB maior que o PIB. No Brasil, o PNB é menor que o PIB, enviam-se mais recursos ao exterior do que se recebe.

Por exemplo, uma empresa americana com sede naquele país possui uma filial no Brasil. A parcela do lucro da filial enviada aos Estados Unidos é parte integrante do PNB americano. Em outras palavras, a filial brasileira contribui para elevar o PIB do Brasil e, em simultâneo, aumenta o PNB dos Estados Unidos quando envia parte de seus lucros para aquele país.

Outro exemplo, um engenheiro brasileiro presta um serviço para uma empresa americana situada nos Estados Unidos, o produto decorrente dessa atividade é parte integrante do PIB daquele país. Por outro lado, essa renda auferida pelo cidadão brasileiro compõe o PNB do Brasil.

É importante salientar que o PNB engloba os rendimentos obtidos pelos cidadãos e pelas empresas no exterior, mas não engloba os rendimentos obtidos por estrangeiros no país, ou seja, PNB não incorpora o valor dos serviços realizados para produzir bens materiais, porque o seu valor é incluído no preço do produto acabado.

Para obter o Produto Nacional Líquido (PNL), subtraímos do PNB a depreciação do capital.

Equação 2.2 (PNL) \[PNL = PNB - \textrm{Depreciação}\]

Do mesmo modo, o Produto Interno Líquido (PIL) é caracterizado pela diferença entre o PIB e a depreciação do capital.

Equação 2.3 (PIL) \[PIL = PIB - \textrm{Depreciação}\]
Nota 2.6 (Depreciação)

Redução do valor ativo em consequência de desgaste pelo uso, obsolescência tecnológica ou queda no preço de mercado, geralmente de máquinas, equipamentos e edificações.

Outro conceito importante que caracteriza o Produto diz respeito às tributações e subsídios dos fatores de produção. No caso do PNB, teríamos o Produto Nacional Bruto a custo de fatores (PNB\(_{cf}\)) quando mensuramos o PNB sem considerar os impostos indiretos e os subsídios. Se considerarmos essas variáveis, teríamos o PNB a preço de mercado (pm). Logo:

Equação 2.4 (PNB preço de mercado e a custo de fatores) \[PNB_{pm}= PNB_{cf}+ \textrm{impostos indiretos - subsídios}\]

Assim, há várias combinações possíveis. e.g., PIB\(_{pm}\), PIB\(_{cf}\), PIL\(_{pm}\), PIL\(_{cf}\)

2.3 O Produto agregado sob as três óticas

Textos de referência Vasconcellos e Garcia (2018, p. 173–179); Lopes et al. (2018, p. 2–6) e Lopes et al. (2008, p. 20–44).

O PIB é medido a preços de mercado (\(PIB_{pm}\)) e pode ser calculado sob três óticas: produto (oferta), renda e despesa (demanda).

2.3.1 Ótica do produto

Pela ótica da produção, há duas formas de mensurar o PIB. A primeira corresponde à soma dos valores agregados dos setores primário, secundário e terciário da economia.

Equação 2.5 (Grandes setores da economia) \[ \begin{aligned} \sum p_i\times q_i = p_{\textrm{soja}}\times q_{\textrm{soja}} +...+ p_{\textrm{automóvel}}\times q_{\textrm{automóvel}} + ... + p_{\textrm{bilhete viagem}}\times q_{\textrm{bilhete viagem}} \end{aligned} \]

\(p = \textrm{preço}\) e \(q = \textrm{quantidade}.\)

A Figura 2.7 evidencia o PIB dos grandes setores da economia brasileira – agropecuária, indústria e serviços – em valores reais entre 1996 e 2020 – Tabela n.º 1846 do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA, 2021).

Produto Interno Bruto dos grandes setores da economia

Figura 2.7: Produto Interno Bruto dos grandes setores da economia

Outro modo de mensurar o PIB sob essa ótica é através da soma do valor adicionado na produção. Ou seja, considera-se o valor efetivamente adicionado em cada etapa do processo produtivo.

Equação 2.6 (Valor adicionado) \[PIB_{pm} = \sum \textrm{Valor Adicionado} = \textrm{Valor Bruto da Produção (VBP)}-\textrm{Consumo Intermediário}\]

\(VBP = \textrm{Produção} + \textrm{Imposto sobre Produto}\)

O valor da produção de uma empresa menos o valor dos bens intermediários que a empresa adquiriu, veja o exemplo.

Para fins didáticos, considera-se uma economia onde há apenas uma cadeia produtiva, destinada à produção final de pão.

  1. No ano \(t\) a empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $100 e vendeu-as à empresa do setor 2.

  2. No mesmo ano, a empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $300.

  3. Posteriormente, a empresa do setor 3 comprou o trigo da empresa do setor 2 por 300 e vendeu farinha de trigo à empresa do setor 4 por $750.

  4. A empresa do setor 4 vendeu aos consumidores o total de pães produzidos no ano em referência por $1.000.

O PIB dessa economia corresponde à soma dos valores adicionados que é exatamente o valor da produção do único bem final.

Tabela 2.1: Valores adicionados no processo de fabricação de pães
Setor Receira de venda Compra intermediária Valor adicionado
1\(.\) Semente 100 0 100
2\(.\) Trigo 300 -100 200
3\(.\) Farinha 750 -300 450
4\(.\) Pão 1000 -750 250
Total 1000

O valor final do pão corresponde à soma dos valores adicionados em cada etapa produtiva.

Evidentemente, o PIB de uma economia é formado por uma rede complexa de atividades econômicas. Cf. Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). No Brasil, o IBGE apresenta trimestralmente os valores adicionados da economia, valores correntes e os índices de volume, no relatório do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais – SCNT.

2.3.2 Ótica da renda

Pela ótica da renda, o PIB é calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico de um país sob a forma de salários, juros, aluguéis e lucros distribuídos.

Em outras palavras, o PIB pela ótica da renda é medido pela soma dos rendimentos obtidos no processo de produção.

Fatores de produção e as respectivas remunerações

  • Mão de obra \(\to\) Salários (\(w\))
  • Capital (financeiro) \(\to\) Juros (\(j\))
  • Terra (recursos naturais)/Capital físico \(\to\) Aluguéis (\(a\))
  • Capacidade empresarial (organização da produção) \(\to\) Lucros (\(l\))
  • Capacidade tecnológica (invenção, inovação e operação) \(\to\) \(royalties\)

Equação 2.7 (Soma dos rendimentos) \[Y= w + j + l + a + royalties\]

\(\textrm{O } Y \textrm{ representa a renda bruta.}\)

A Figura 2.8 demonstra como o IBGE explicita o PIB sob a ótica da renda.

Produto Interno Bruto sob a ótica da renda

Figura 2.8: Produto Interno Bruto sob a ótica da renda

2.3.3 Ótica da demanda (ou despesa)

Pela ótica do dispêndio, o PIB resulta da soma dos dispêndios em consumo das unidades familiares e do governo, mais as variações de estoques, menos as importações de mercadorias e serviços, e mais as exportações. Sob essa ótica, o PIB é também denominado Despesa Interna Bruta.

Nota 2.7 (Estoque)

“Quantidade de um bem armazenado ou em conservação (matérias-primas, combustíveis, produtos semi-acabados ou acabados). Os bens podem ser estocados para venda, abastecimento de entressafra ou simplesmente para especulação. O estoque deve ser periodicamente avaliado para possibilitar o balanço anual de uma empresa. O volume total de estoques numa economia tende a crescer com o produto nacional e, a curto prazo, está sujeito a flutuações conjunturais (valorização ou depreciação, conforme o nível dos preços ou a situação cambial)” (SANDRONI, 1999).

Equação 2.8 (PIB sob a ótica da despesa)

\[\begin{align} Y = C + I + G + (X-M) \end{align}\]

\(\textrm{O } Y \textrm{ representa o produto.}\)

“Lembrando que o termo ‘produto’ pode ser substituído pela palavra ‘renda’” (LOPES et al., 2018, p. 7)
  • Consumo (C)
    • Bens e Serviços comprados pelos domicílios, i.e., bens não duráveis, bens duráveis e serviços.
  • Investimento (I)
    • Contempla a demanda da empresa por bens de capital, i.e., é a categoria de investimento que cria um capital. No Brasil, corresponde à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), considerando a depreciação e a variação do estoque.
  • Gastos do governo (G)
    • São os bens e serviços comprados pelos governos federal, estadual e municipal.
  • Exportações líquidas, Exportações - Importações (X-M)
    • Em sentido estrito, essa diferença representa o saldo do Balanço de Pagamento em Transações Correntes, ou seja, o saldo da balança comercial, de serviços, a renda primária e a renda secundária. Cf. Lopes et al. (2018, p. 8)

A Figura 2.9 mostra a variação do PIB e de seus componentes em relação ao mesmo trimestre do ano anterior segundo a ótica da demanda.

Variação interanual dos PIB sob a ótica da demanda

Figura 2.9: Variação interanual dos PIB sob a ótica da demanda

3 Exercícios para revisão

  1. Aponte a alternativa incorreta.

    1. A microeconomia é o estudo que trata dos mercados individuais e dos tomadores de decisão.

    2. A macroeconomia é o estudo da economia como um todo, incluindo crescimento em termos de renda, variação de preços e taxa de desemprego.

    3. Capital é o estoque de equipamentos e estruturas utilizados no processo de produção.

    4. Investimento são os bens adquiridos por indivíduos e por empresas com a finalidade de acrescentá-los a seus respectivos estoques de capital.

    5. Exportações líquidas corresponde às exportações mais as importações.

Resposta:

e. Exportações líquidas, Exportações - Importações (X-M)

  1. Quais dos itens a seguir a Macroeconomia não estuda?

    1. mudanças no preço das ações.

    2. mudanças na taxa de desemprego.

    3. mudanças no aumento do PIB real na economia.

    4. mudanças na taxa de inflação.

    5. mudanças na taxa de câmbio.

Resposta:

a.

Resposta:

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Resposta:

Referências

AGÊNCIA BRASIL. PIB de 2020 fecha com queda de 4,1\(\%\), revela pesquisa do IBGE. Brasília: Agência Brasil, 2021.
AGÊNCIA IBGE. Produção industrial cresce em sete dos 15 locais pesquisados em janeiro. Rio de Janeiro: IBGE, 2021a.
AGÊNCIA IBGE. Inflação avança 0,86\(\%\) em fevereiro, maior alta para o mês desde 2016. Rio de Janeiro: IBGE, 2021b.
BCB. Copom eleva a taxa Selic para 2,75\({\%}\) a.a. Brasília: Banco Central do Brasil, 2021.
LOPES, L. M. et al. Manual de Macroeconomia: Básico e Intermediário. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LOPES, L. M. et al. Macroeconomia: Teoria e Aplicações de Política Econômica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
SANDRONI, P. Novı́ssimo dicionário de economia. São Paulo: Editora Best Seller, 1999.
SIDRA. Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA. Brasília: IBGE, 2021.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. p. 368